domingo, 29 de junho de 2008


Dicas Culturais


No dia 31 de maio, a Fundação Iberê Camargo abriu sua nova sede ao público, com uma grande retrospectiva de Iberê Camargo. Intitulada Iberê Camargo – Moderno no Limite, a exposição destaca a trajetória de um dos mais importantes artistas brasileiros no século 20. “O visitante se encontra diante de um dos pontos culminantes da arte no Brasil do século vinte”, escreveu Paulo Sérgio Duarte, curador da mostra, ao lado de Mônica Zielinsky e Sônia Salzstein.

A seleção feita pelos curadores da mostra foi baseada na qualidade da obra e o significado dela dentro do conjunto da produção de Iberê Camargo, nascido em Restinga Seca, no Rio Grande do Sul, em 1914. “Procuramos também ressaltar a contribuição dos acervos de instituições públicas, onde se preservaram obras importantes, sem esquecer as igualmente representativas de colecionadores”, explica Mônica Zielinsky.

Estão sendo expostas 89 obras, sendo 57 pinturas, 21 gravuras e 11 desenhos. A maior parte das obras pertence ao acervo da Fundação e 27 foram emprestadas por colecionadores e instituições públicas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. A exposição reunirá obras de todas as fases do artista e será organizada em salas de forma não-cronológica. “Aquele que se detiver com atenção nas obras de cada sala não será apenas testemunha de um capítulo maior da arte moderna no Brasil, mas terá uma experiência estética única constituída pelos melhores valores de nosso tempo”, ressalta Paulo Sergio Duarte.

A exposição acompanha todas as fases do artista, desde a juventude, na década de 40, época em que Iberê dedicava-se a retratar paisagens em pinturas, desenhos e gravuras. “Esse momento coincide com um período em que a arte no Rio Grande do Sul ainda estava muito ligada a modelos europeus, especialmente ao impressionismo e às questões acadêmicas. Entretanto, Iberê apresenta desde o princípio uma obra agitada, que traz a nervosidade da pintura. Os desenhos magníficos, talvez, merecessem uma exposição à parte”, observa Mônica.


A série Os Carretéis também ganha destaque na retrospectiva. “Os carretéis e o punhado de figuras que, ao longo da carreira de Iberê, parecem morfologicamente derivar deles constituem um tópos na pintura do artista, e talvez o exame daquilo que se explicitou pela primeira vez de maneira plena em Carretéis com Laranjas e em diversas gravuras de 1958 nas quais se estampava o mesmo ‘motivo’ permita aprofundar o conhecimento da totalidade da obra”, diz a professora da USP, Sônia Salzstein.

Na infância do artista, os carretéis eram os brinquedos prediletos. Guardados na caixa de costura da mãe, ganhavam personalidade na imaginação do menino. Em 1958, viriam a ser resgatados quando ele se viu obrigado a recolher-se a uma cama devido a uma hérnia de disco. O brinquedo que parecia ter vida própria na infância emerge, então, da memória do homem adulto através de estudos de desenho e gravura. A partir daí os carretéis nunca mais seriam abandonados, como se acompanhassem para sempre o imaginário do artista. “Eles estão representados de diversas maneiras e abordagens. Muitas vezes, quase não são reconhecíveis, mas estão sempre presentes”, salienta Mônica Zielinsky.


A exposição apresenta também obras de destaque da série Os Ciclistas, que Iberê Camargo trabalhou a partir dos anos 80, e da série As Idiotas, do início da década de 90. “Iberê apresenta obras narrativas que descrevem uma ação ou situação envolvendo figuras tristes, com atitude de solidão e abandono, como se anunciassem o destino humano da morte”, explica Mônica. Os Ciclistas e As Idiotas pertencem à fase final da obra de Iberê, que morreu em agosto de 1994, em Porto Alegre, vítima de câncer.

A exposição será acompanhada de um cuidadoso projeto educativo, com curadoria de Luis Camnitzer, que atenderá escolas das redes pública e privada, além do público em geral. Além disso, será realizado um ciclo de palestras, de 12 a 14 de agosto, com convidados nacionais e internacionais, que irão discutir questões da arte moderna e contemporânea. Também acompanhará a exposição um catálogo bilíngüe, de 132 páginas, com imagens de todas as obras da exposição, textos de Mônica Zielinsky e de Sônia Salzstein e uma cronologia do artista.

Tome nota

A exposição fica em cartaz até 31 de agosto e pode ser visitada de terça a sexta, das 10h às 19h, quintas, das 10h às 21h, e sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h. A Fundação Iberê Camargo se localiza na Av. Padre Cacique, 2000, em Porto Alegre. A entrada é gratuita. Na seqüência, a exposição segue para o Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, onde permanecerá de 11 de setembro a 30 de novembro.

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