segunda-feira, 8 de setembro de 2008

pré-modernismo

Pré-Modernismo

O pré-modernismo deve ser situado nas duas décadas iniciais deste século, até 1922, quando foi realizada a Semana da Arte Moderna. Serviu de ponte para unir os conceitos prevalecentes do Realismo, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo.
Não possui um grande número de representantes, mas conta com nomes de imenso valor para a literatura brasileira que formaram a base dessa fase.
Os autores embora tivessem cultivado formalismos e estilismos, não deixaram de mostrar inconformismo perante suas próprias consciências dos aspectos políticos e sociais, incorporando seus próprios conceitos que abriram o caminho para o Modernismo.
O que se convencionou em chamar de Pré-Modernismo, no Brasil, não constitui uma escola literária, ou seja, não temos um grupo de autores afinados em torno de um mesmo ideário, seguindo determinadas características. Na realidade, Pré-Modernismo é um termo genérico que designa toda uma vasta produção literária que caracterizaria os primeiros vinte anos deste século. Aí vamos encontrar as mais variadas tendências e estilos literários, desde os poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvolver um novo regionalismo, outros preocupados com uma literatura política e outros, ainda, com propostas realmente inovadoras.
O Pré-Modernismo é uma fase de transição e, por isso, registra:

  • Um traço conservador

A permanência de características realistas/naturalistas, na prosa, e a permanência de uma poesia de caráter ainda parnasiano ou simbolista.

  • Um traço renovador

Esse traço renovador, como ocorreu na música, revela-se no interesse com que ou novos escritores analisaram a realidade brasileira de sua época: a literatura incorpora as tensões sociais do período. O regionalismo, nascido do Romantismo, persiste nesse momento literário, mas com características diversas daquelas que o animaram durante o Romantismo. Agora o escritor não deseja mais idealizar uma realidade, mas denunciar os desequilíbrios dessa realidade. Esse tom de denúncia é a inovação nessa tentativa de “pintar” um retrato do Brasil. Além disso, dois dos mais importantes escritores da época (Lima Barreto e Monteiro Lobato) deixaram claro sua intenção de escrever numa linguagem mais simples, que se aproximasse do coloquial.


O Pré-Modernismo, portanto, resultou da simultaneidade de vários estilos e com algumas características marcantes em quase todos os escritores que dele fizeram parte:

· A visão eminentemente crítica da realidade brasileira do começo do século XX;
· O interesse pela via marginalizada na sociedade (os sertanejos, os mulatos, os caipiras e os funcionários públicos);
· O regionalismo crítico evidenciado na obra de Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e do gaúcho Simões Lopes Neto;
· O imigrante e suas dificuldades de adaptação no Brasil.


  • Momento Histórico


Enquanto a Europa se prepara para a Primeira Guerra Mundial, o Brasil começa a viver, a partir de 1894, um novo período de sua história republicana: com a posse do paulista Prudente de Morais, primeiro presidente civil, inicia-se a "República do café-com-leite", dos grandes proprietários rurais, em substituição a "República da Espada". É a áurea da economia cafeeira no Sudeste; é o movimento de entrada de grandes levas de imigrantes, notadamente os italianos (base para história do romance Canaã); é o esplendor da Amazônia com o ciclo da borracha; é o surto de urbanização de São Paulo.
A economia de São Paulo baseava-se na cultura e exportação do café; a de Minas Gerais, na produção de café e de laticínios.
A República exprimiu ainda mais os contrastes da sociedade brasileira; os negros, recém libertados, marginalizaram-se, os imigrantes chegavam em razoável quantidade para substituir a mão-de-obra escrava; surgi uma nova classe social: o proletariado, camada social formada pelos assalariados. De um lado, ex- escravos, imigrantes e proletariado nascente, de outro, uma classe conservadora do dinheiro e do poder.
É, também, o tempo de agitações sociais. Do abandono do Nordeste partem os primeiros gritos da revolta. Em fins do século XIX, na Bahia, ocorre a Revolta de Canudos, tema de Os sertões, de Euclides da Cunha; nos primeiros anos do século XX, o Ceará é o palco de conflitos, tendo como figura central o padre Cícero, o famoso "Padim Ciço"; em todo o sertão vive-se o tempo do cangaço, com a figura lendária de Lampião.
O Rio de Janeiro assiste, em 1904, a uma rápida mais intensa revolta popular, sob o pretexto aparente de lutar contra a vacinação obrigatória idealizada por Oswaldo Cruz; na realidade, tratava-se de uma revolta contra o alto custo de vida, o desemprego e os rumos da República. Em 1910, há outra importante rebelião, desta vez dos marinheiros liderados por João Cândido, o "almirante negro", contra o castigo corporal, conhecida como a "Revolta de Chibata". Ao mesmo tempo, em São Paulo, as classes trabalhadoras sob a orientação anarquista, iniciam os movimentos grevistas por melhores condições de trabalho.
Essas agitações são sintomas de crise na "República do café-com-leite", que se tornaria mais evidente na década de 1920, servindo de cenário ideal para os questionamentos da Semana da Arte Moderna.


Manifestações Artísticas:
  • Música
Na música erudita, destacou-se Alberto Nepomuceno, que além de suas principais composições eruditas com intenções nacionalistas, introduziu os modernos compositores europeus no Brasil.
Já a música popular, ritmos como o maxixe, a modinha e a toada começaram a serem tocadas nos salões sofisticados, tomando o lugar da polca e da valsa. Até então, a música popular era vista com preconceito, não só em relação à música também os instrumentos populares.
Vários compositores eruditos passaram a manifestar interesses e a valorizar os ritmos populares para que as elites começassem a aceitar aquele tipo de música. Ao mesmo tempo, o carnaval passou a estabelecer com a principal festa popular do Rio de janeiro, e então, quando Chiquinha Gonzaga divulgou uma marcha que iria ficar na famosa “O Abre Alas”.


Ó abre alas Ó abre alas
Que eu quero passar Que eu quero passar
Ó abre alas Ó abre alas
Que eu quero passar Que eu quero passar
Eu sou da Lira Rosa de Ouro
Não posso negar Ë quem via ganhar.


  • Pintura

A pintura brasileira pouco se deixou influenciar pelas renovações que ocorriam na Europa, ainda que alguns pintores mostrassem as marcas do Impressionismo em suas obras, a maioria transmitia o estilo acadêmico.
A pintura da época resumia-se sobretudo a temas e ambientes da elite, como poder ser visto em Más Notícias, de Rodolfo Amado.

o Desenho [Más Notícias]
Na Europa ocorriam profundas renovações de estilo.
o Desenho [Madona, Les Demoiselles]


Autores do Pré- Modernismo:

· Augusto dos Anjos (1884-1914)
· Euclides da Cunha (1866-1909)
· Lima Barreto (1881-1922)
· Monteiro Lobato (1882-1948)
· Graça Aranha (1868-1931)






O autor Graça Aranha



José Pereira da Graça Aranha nasceu no Maranhão em 21 de junho de 1868, no seio de uma família muito rica e culta, que favoreceu seu desenvolvimento cultural. Era filho de Temistocles da Silva Maciel Aranha e de Maria da Glória da Graça.
Formou-se em Direito pela Faculdade de Recife. Depois de formado seguiu carreira como juiz de Direito no Estado do Rio de Janeiro e no município de Porto do Cachoeiro, Espírito Santo onde recolhe material para o romance Canaã, publicado em 1902, que foi um dos raros romances simbolistas da história literária brasileira e teve sucesso exemplar.
O romance retrata a vida numa colônia de imigrantes europeus no Espírito Santo. Tudo gira em torno de dois personagens, imigrantes alemães, com diferentes visões de mundo: enquanto Milkau acredita na humanidade e pensa encontrar a “terra prometida” (Canaã) no Brasil, Lentz não se adapta à realidade brasileira, voltado que era para a superioridade germânica e para a lei do mais forte. Nas palavras do crítico Alfredo Bosi: “(...) É o contraste entre o racismo e o universalismo, entre a ‘lei da força’ e a ‘lei do amor’ que polariza ideologicamente, em Canaã, as atitudes do imigrante europeu diante da sua nova morada”.
Enquanto a obra Canaã não estava completa, mostrou partes dela para Machado de Assis e Joaquim Nabuco e, por causa disso, acabou ingressando na Academia Brasileira de Letras, mesmo sem ter publicado uma obra se quer, tornando-se um dos membros fundadores da mesma.

Augusto dos Anjos: o Átomo e o Cosmo

Considerado por alguns como poeta simbolista, Augusto dos Anjos (1884-1914) apresenta uma experiência única na literatura universal: a união do simbolismo com cientificismo naturalista. Por isso, dado o caráter sincrético de sua poesia, convém situá-lo entre os pré- modernistas.
Os poemas de sua única obra, Eu (1912), chocam pela agressividade de seu vocabulário e pela visão dramaticamente angustiante da matéria, da vida de cosmos. Integram a linguagem termos até então considerados antipoéticos, como escarro verme, germe, cuspe etc. Os temas são inquietantes: a prostitua, as substâncias químicas que compõe o corpo, o cadáver, o sêmen, o verme, etc.
Além dessa “camada cientifica” de sua poesia, verifica-se, por outro lado, a dor de ser dos simbolistas, a poesia de anseios e angústias existência.
Para o poeta, não há Deus nem esperança; há apenas a supremacia da ciência. Quanto ao homem, as substâncias e energias do universo que o geram, compondo a matéria de que ele é feito, tudo fatalmente se arrasta para a prodidão e para a decomposição, para o mal e pra o nada.
Poema de Augusto dos Anjos:
A Idéia
De onde ela vem?!
De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.

Com sua poesia antilírica, Augusto dos Anjos deu início à discussão sobre os conceitos de “boa poesia”, preparando o terreno para a grande renovação modernista que ocorreu a partir da segunda década do século XX.



Lima Barreto (1881 - 1922)

AFONSO HENRIQUES DE LIMA BARRETO nasceu a 13 de maio de 1881 no Rio de Janeiro. Filho de uma escrava com um português, cursou as primeiras letras em Niterói e depois transferiu-se para o Colégio Pedro II. Em 1897 ingressou no curso de engenharia da Escola Politécnica. Em 1902 abandonou o curso para assumir a chefia e o sustento da família, devido ao enlouquecimento do pai, e empregou-se como amanuense na Secretaria da Guerra.

Apesar do emprego público e das várias colaborações nos jornais da época lhe darem uma certa estabilidade financeira, Lima Barreto começou a entregar-se ao álcool e a ter profundas crises de depressão. Tudo isso causado pelo preconceito racial.

No ano de 1909 fez sua estréia como escritor com o lançamento da obra "Recordações do Escrivão Isaías Caminha" publicada em Portugal. Nessa época, dedicou-se à leitura dos grandes nomes da literatura mundial, dos escritores realistas europeus de seu tempo, tendo sido dos poucos escritores brasileiros a tomar conhecimento e a ler os romancistas russos.


Em 1910, fez parte do júri no julgamento dos participantes do episódio chamado "Primavera de sangue", condenando os militares no assassinato de um estudante, sendo por isso preterido, daí para frente, nas promoções na Secretaria da Guerra. Em 1911 escreveu o romance "Triste fim de Policarpo Quaresma", publicado em folhetins no Jornal do Comércio.

Apesar do aparente sucesso literário, Lima Barreto não consegue afastar-se do álcool é internado por duas vezes entre os anos de 1914 e 1919. A partir de 1916 começou a militar a favor da plataforma anarquista. Em 1917 publicou um manifesto socialista, que exaltava a Revolução Russa. No ano seguinte, doente e muito fraco, foi aposentado do serviço público e em 1º de novembro de 1922 veio a falecer, vítima de um colapso cardíaco.

Lima Barreto é considerado um autor Pré-modernista por causa da forma com que encara os verdadeiros problemas do Brasil. Dessa forma, critica o nacionalismo ufanista surgido no final do séc. XIX e início do XX. Apesar de Lima Barreto não ter sido reconhecido, em seu tempo, como um grande escritor, é inegável que pelo menos o romance "Triste Fim de Policarpo Quaresma" figure entre as obras primas da nossa literatura.

CRONOLOGIA
1881 - Afonso Henriques de Lima Barreto nasce no Rio de janeiro, a 13 de maio Machado de Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas.
1887 - Em dezembro, morre sua mãe, de tuberculose galopante.
1888 -Abolição da Escravatura.
1889 -Proclamação da República.
1890 -Instalação da Assembléia Nacional Constituinte.
1891 - Deodoro da Fonseca fecha o Congresso Nacional; contragolpe de Floriano Peixoto leva-o ao poder para restaurar a ordem constitucional.
1893 - A Armada revolta-se no Rio; Revolução Federalista no Sul.
1894 -Prudente de Morais assume a presidência da República.
1895 - Morre Floriano Peixoto. Concluída a instrução primária, Lima Barreto entra para o Ginásio Nacional.
1896 -Conclui os primeiros preparatórios no Colégio Paula Freitas.
1897 -Ingressa na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
1898 -Campos Sales inicia seu governo como presidente da República.
1902 -Rodrigues Alves assume o poder e começa a reconstruir e sanear o Rio de Janeiro. Lima Barreto colabora em jornais acadêmicos, escrevendo para A Lanterna, a convite de Bastos Tigre.
1903 -O pai enlouquece e Lima Barreto é obrigado a deixar a faculdade para sustentar a família. Ingressa como amanuense na Secretaria da Guerra.
1905 - Passa a trabalhar como jornalista profissional, escrevendo uma série de reportagens para o jornal Cor¬reio da Manhã.
1907 - Funda no Rio a Revista Floreal.
1909 - Morte de Afonso Pena; Nilo Peçanha o substitui. Aparece em Lisboa o romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha, publicado pelo editor M. Teixeira.
1910 -Hermes da Fonseca inicia o governo das "salvações nacionais" .
1911 - O Jornal do Comércio começa a publicar em folhetins o romance Triste Fim de Policarpo Quaresma.
1912 - Lima Barreto colabora no jornal A Gazeta da Tarde, onde publica, além de relatos folhetinescos, a sátira Numa e a Ninfa.
1914 - Venceslau Brás chega ao poder em meio a grave cri¬se econômica. Em agosto, Lima Barreto é recolhido pela primeira vez ao hospício.
1916 - Abusando do álcool e levando uma vida desregrada, é internado para tratamento de saúde, interrompendo sua atividade profissional e literária.
1917 -Crises e greves operárias alastram-se pelo país. Li¬ma Barreto atua na imprensa anarquista, apoiando a plataforma libertária dos trabalhadores.
1918 - Por ter sido considerado "inválido para o serviço público", e aposentado de seu cargo na Secretaria da Guerra.
1919 - Epitácio Pessoa assume a presidência da República. Aparece o romance Vida e Morte de M. F. Gonzaga de Sá. Lima Barreto é novamente recolhido ao hospício.
1922 - Semana de Arte Moderna em São Paulo; Lima Barreto morre em sua casa, no Rio de Janeiro, de colapso cardíaco.

Obras:
Lima Barreto foi o crítico mais agudo da época da República Velha no Brasil, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem da República, que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares.
Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados.
Foi severamente criticado pelos seus contemporâneos parnasianos por seu estilo despojado, fluente e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas.
Lima Barreto queria que a sua literatura fosse militante. Escrever tinha finalidade de criticar o mundo circundante para despertar alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam pessoas e grupos. Para ele, o escritor tinha uma função social.
Abaixo seque um trecho de uma das obras de Lima Barreto
A lei
Este caso da parteira merece sérias reflexões que tendem a interrogar sobre a serventia da lei.
Uma senhora, separada do marido, muito naturalmente quer conservar em sua companhia a filha; e muito naturalmente também não quer viver isolada e cede, por isto ou aquilo, a uma inclinação amorosa.
O caso se complica com uma gravidez e para que a lei, baseada em uma moral que já se findou, não lhe tire a filha, procura uma conhecida, sua amiga, a fim de provocar um aborto de forma a não se comprometer.
Vê-se bem que na intromissão da “curiosa" não houve nenhuma espécie de interesse subalterno, não foi questão de dinheiro. O que houve foi simplesmente camaradagem, amizade, vontade de servir a uma amiga, de livrá-la de uma terrível situação.
Aos olhos de todos, é um ato digno, porque, mais do que o amor, a amizade se impõe.
Acontece que a sua intervenção foi desastrosa e lá vem a lei, os regulamentos, a polícia, os inquéritos, os peritos, a faculdade e berram: você é uma criminosa! você quis impedir que nascesse mais um homem para aborrecer-se com a vida!
Berram e levam a pobre mulher para os autos, para a justiça, para a chicana, para os depoimentos, para essa via-sacra da justiça, que talvez o próprio Cristo não percorresse com resignação.
A parteira, mulher humilde, temerosa das leis, que não conhecia, amedrontada com a prisão, onde nunca esperava parar, mata-se.
Reflitamos, agora; não é estúpida a lei que, para proteger uma vida provável, sacrifica duas? Sim, duas porque a outra procurou a morte para que a lei não lhe tirasse a filha. De que vale a lei?

Vida urbana, 7-1-1915


Conclusão do Grupo:
Lima Barreto, foi um escritor que por toda sua trajetória de vida, sofreu muito preconceito pela cor da sua pela e pela classe social. Com isso ele transcrevia em suas obras toda essa experiência negativa, fazendo com que ele se tornasse um grande crítico e seus textos bem objetivos e de fácil compreensão para o leitor.



Por: Isabelle Abreu,Rahyane Fernanda, Vanessa de Queiroz, Yoko Yamamoto

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